Imagine Adão passeando pelo jardim do Éden enquanto tudo estava em plena paz e harmonia. Era tudo muito bom. Não existia poluição, ganância ou pobreza. Adão andava nu e não sentia qualquer espécie de constrangimento ou ameaça. Não existia malícia. O ser humano tinha plena paz e podia conversar com Deus, como falamos uns com os outros.
Será que eles não levaram tudo isso em consideração no instante em que lhes foi oferecido o fruto proibido? Por que não pensaram duas vezes antes de desobedecer a Deus e perder todo o paraíso em que viviam?
Infelizmente, Gênesis nem sequer relata Adão hesitando em pegar o fruto. E o pior, ele nos representava. Deste modo, também sofremos as consequências da desobediência dele. Assim com Deus viu Adão como culpado, assim também nos vê hoje. Mas graças a Deus que a história da humanidade não terminou em Adão. O Criador pretendia que chegássemos a um propósito muito maior e mais glorioso.
- Em Adão Um questionamento comum que algumas pessoas fazem para justificar sua incredulidade na Bíblia é: como Deus pode comprometer toda a humanidade por causa do erro de um só homem? Deus não nos trata individualmente, recompensando a cada um segundo as suas obras? O que nós temos a ver com Adão?
Em Romanos 5.12-21 temos importantes e fundamentais ensinos, dos quais depende nossa compreensão exata da obra e do sacrifício de Jesus, que nos levam às respostas a esses questionamentos.
Nos v. 12-14, Paulo apresenta o que conhecemos como a doutrina do pecado original, isto é, todos nós pecamos com Adão – nosso representante – quando ele pecou: “assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram” (v. 12).
- O pecado entrou no mundo “Um só homem Como isso é complexo! Somos herdeiros de uma herança de morte e de transgressão. Por apenas um único ato, toda a humanidade ficou condenada à miséria e destruição. Realmente Adão carregava grande responsabilidade e poder de decisão. Todos nós estávamos nele e sua decisão comprometería o futuro de tudo. Sua desobediência foi uma declaração de óbito de toda a raça humana. A entrada da morte no mundo é a declaração da nossa derrota e da nossa incapacidade em fazer escolhas certas na vida.
Adão era o representante federal de toda a humanidade, ou seja, representava todo ser humano. Podemos ilustrar isso, ainda que de modo limitado, com a responsabilidade da presidência da República. As decisões de um presidente afetam todos os brasileiros. Se ele se desentender com outro país e nos encaminhar a uma guerra, todos nós seremos afetados, porque sua
posição representa toda a nação, tanto para coisas boas como para coisas ruins. Em uma proporção incalculavelmente maior, esse princípio se aplica a Adão. Desse modo, ao olhar a transgressão de Adão, Deus olhou com ira e justiça para todos que ainda nasceríam e ainda vão nascer. Por essa razão é dito em Gênesis: “Viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração; então, se arrependeu o Senhor de ter feito o homem na terra, e isso lhe pesou no coração” (Gn 6.5-6).
A expressão “se arrependeu o Senhor” significa que Deus se desgostou tanto do homem que não mais o suportava. O sentimento de Deus ao olhar para a sua criação foi de tristeza e decepção indescritíveis. E isso que Paulo está expondo. A consequência imediata do pecado é a morte: “… no dia em que dela comerdes, certamente morrerás”; “o salário do pecado é a morte”. Essa palavra se cumpriu e devastou o mundo. E isso nos faz lembrar que mesmo regenerados, somos herdeiros de Adão, e ainda carregamos os efeitos de sua morte em nossa carne.
- O regime da lei Mas Paulo encaminha esse ponto para o que ele tratou nos capítulos 2—4, sobre a lei. No v. 13 temos uma declaração de como as coisas funcionavam antes de Moisés, isto é, antes de Deus revelar a sua lei: “… até ao regime da lei havia pecado no mundo, mas o pecado não é levado em conta quando não há lei”. Ora, isso não significa que não existia pecado antes da revelação no Monte Sinai. Tanto existia que Deus enviou o dilúvio, destruiu Sodoma e Gomorra e o Egito sofreu dez pragas.
A questão é que até o momento em que o homem veja claramente na lei a vontade de Deus, a sua consciência permanece amortecida e em sonolência. Ele comete pecado sem o conhecimento exato da vontade de Deus. Por isso o v. 14 diz que: “reinou a morte desde Adão até Moisés”. Deus julgava o homem, afinal ele tinha a “lei da consciência”, herdada da imagem e semelhança de Deus, ou seja, o homem nunca foi nem é completamente desprovido de senso moral; o pior pecador da face da terra sabe distinguir entre o certo e o errado.
Mas a chegada da lei esclareceu ainda mais a todos quanto ao que Deus espera de nós. No último filme da trilogia O poderoso chefão, um poderoso mafioso, interpretado pelo ator Al Pacino, vai a uma igreja e busca esperança em um padre, afinal ele já estava velho e tinha muitas contas a prestar por todos os seus crimes. Isso é um exemplo de que todos têm consciência do certo e do errado, ainda que muito debilitada. Porém poucos reconhecem que o erro se chama pecado.
O conhecimento que adquirimos da lei nos faz mais conscientes, mas o crente que se distancia da verdade, também fica sujeito a uma vida de tropeções, porque todos precisam se alimentar diariamente das orientações divinas. No final, Paulo considera Adão como o que “prefigurava aquele que havia de vir”, um tipo de Cristo. Adão é a pessoa apontada com mais clareza na Bíblia como tipo de Cristo. Nesse sentido, tipo é aquele que anuncia, com a sua vida e ações, o que virá.
Adão e Cristo serviram como nossos representantes federais. Adão representou a humanidade e Cristo representou o seu povo escolhido. Em Adão todos morrem, mas agora em Cristo nós vivemos. Um tem o poder de destruir e o outro de salvar; um extermina a esperança, enquanto o outro dá a vida eterna. São esses contrapontos que Paulo passa a tratar nos versículos seguintes.
- Em Cristo Conforme dissemos no início, saber que estávamos representados em um homem causa desconforto e, em algumas pessoas, até descrença. No entanto, aqui
há uma verdade que contraria muito determinadas crenças populares. Valoriza-se muito o indivíduo, como se cada um fosse um universo sozinho, suficiente para si mesmo. Em outras palavras, cada um é responsável tão somente pela sua vida. Contrário a esse conceito, a Bíblia nos apresenta como uma sociedade única, como resultados de uma mesma fonte, de um mesmo pai – Adão. Mais do que isso, todos estão na mesma condição de pecado e caminham para o mesmo fim, a morte.
É por esse prisma que devemos entender o mundo. Não somos independentes, mas interdependentes; somos indivíduos diferentes, porém só podemos viver em comunidade. Sendo assim, todos nós estávamos em Adão e todos nós éramos igualmente condenáveis e detestáveis aos olhos de Deus. Até que alguém nos representasse diante do Pai para deixarmos essa condição. Aí entendemos a expressão: estar em Cristo. Estar em Cristo é não estar mais em Adão. Por isso Paulo faz esses contrapontos nos v. 15-21, quatro vezes.
Primeiro, ele compara: “se, pela ofensa de um só, morreram muitos, muito mais a graça de Deus e o dom pela graça de um só homem, Jesus Cristo, foram abundantes sobre muitos” (v. 15). Adão teve grande poder de destruição, mas o poder de restauração de Cristo foi muito maior. Por meio de Adão veio a morte, mas por meio de Cristo o dom da graça. E esse dom, conforme o v. 16, se mostra muito mais poderoso do que a condenação vinda da desobediência de Adão. Uma só ofensa foi suficiente para a desmoralização e condenação de toda a humanidade, mas um ato de justiça apagou todas as ofensas de muitos.
Em segundo lugar ele diz no v. 17: “Se, pela ofensa de um e por meio de um só, reinou a morte, muito mais os que recebem a abundância da graça e o dom da justiça reinarão em vida por meio de um só, a saber, Jesus Cristo”. A morte é elevada à categoria de rainha, mas a graça de Cristo é o rei que venceu a morte. Reparem a repetição da expressão “muito mais”. De fato, quando Adão caiu, perdemos muita coisa, perdemos o paraíso do Éden e a perfeita comunhão com Deus. Mas em Cristo nós temos muito mais do que teríamos se Adão não tivesse caído. As bênçãos que vêm por meio de Cristo Jesus sobrepujam todas as coisas.
Em terceiro lugar, o v. 18 diz: “assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também, por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos os homens para a justificação que dá vida”. Uma ofensa apenas trouxe morte a todos, mas apenas um ato de justiça, o ato de Cristo, trouxe vida.
Em quarto lugar, “como, pela desobediência de um só homem, muitos se tomaram pecadores, assim também, por meio da obediência de um só, muitos se tomarão justos” (v. 19). Esse paralelo feito entre Adão e Cristo mostra duas coisas principais: o quanto nós estávamos perdidos e o maravilhoso poder e suficiência de Jesus Cristo para a nossa completa salvação.
A conclusão que Paulo chegou se tomou uma das frases mais amadas e decoradas por nós: “onde abundou o pecado, superabundou a graça”. A Bíblia nunca subestima o pecado e o seu poder de destruição; sempre somos advertidos de seus perigos. Por mais consagrado que qualquer um de nós seja, o pecado pode arrasar a vida e a família de qualquer um. Mas de maneira muito mais poderosa e eloquente, a graça de Deus é apresentada, porque ela cobre multidões de pecados, sobrepõe ao mal da nossa natureza, destrói os efeitos corrosivos do pecado e nos toma santos. O resultado final da graça é, portanto, a vida eterna.
III. A graça reinou para a vida eterna Enquanto a desobediência de Adão proporcionou a morte, a graça de Cristo
nos deu a vida, isto é, o acesso pleno à vida eterna. Paulo repete sempre essa ideia (Rm 2.7; 6.22-23). Ele poderia falar de outras recompensas, como o consolo, a prosperidade, a alegria, a felicidade, a família e muitos outros benefícios que toda pessoa sonha adquirir. Essas bênçãos aparecem em outras partes da Bíblia como parcelas das bênçãos de Deus.
Mas, Paulo quer destacar a bênção maior, a mais importante e que é exclusiva da igreja. A vida eterna pode não ser completamente sentida ou vista por nós hoje, mas é a maior de todas as recompensas que jamais poderiamos sonhar conseguir. O bandido da cruz não conseguiu pensar em outra coisa quando estava poucos minutos de sua morte (Lc 23.42). Este foi o consolo de Estevão quando morria apedrejado (At 7.56) e do próprio apóstolo Paulo, quando aguardava a sua condenação (2Tm 4.8; Tt 3.7). A vida eterna é superior a qualquer outra dádiva, por isso a Bíblia desloca nossa esperança dessa realidade e a deposita completamente na eternidade.
Conclusão Imagine-se em um a prisão , sendo condenado a viver o resto de seus dias numa cela fechada, cheia de gente da pior espécie. Imagine-se em um ambiente assim, sem proteção, sem família, sem amigos, mas completamente desprotegido e exposto às piores coisas que o homem perverso pode fazer. Em proporção incalculavelmente maior de dor e agonia você estava assim antes de conhecer a Cristo. Pois todos os que ainda estão em Adão, ou seja, na came, e sem Cristo, caminham para uma prisão eterna, onde o fogo não se apaga e o verme não morre; uma dor sem fim e sem o mínimo alívio. Pois foi disso que você, que está em Cristo Jesus, foi libertado. É o lugar para onde a lei de Deus condenará todos os incrédulos, ímpios e pervertidos. Mas os filhos de Deus foram salvos pelo seu Redentor.
Aplicação A humanidade está pendurada ao cinturão de um desses dois homens, Adão ou Cristo. Você está em quem? Não pode estar em nenhum. Se você ainda está em Adão, seu destino será de sofrimento e agonia etemamente, a não ser que você se arrependa dos seus pecados e receba a Cristo como seu Salvador. Se você está em Cristo, então você é feliz, um verdadeiro herdeiro das mais ricas promessas de Deus. Você está livre da morte e já usufrui a vida eterna? Ela agora é sua propriedade?