O livro de Juizes, considerado como tendo sido escrito antes de Davi capturar Jerusalém1 (Jz 1.21; 2Sm 5.6-10), registra vários incidentes históricos que aconteceram entre a morte dos anciãos que serviram sob Josué (Js 24.31; Jz 3.10) e o nascimento de Samuel, um período de quase 350 anos. O livro consiste de três partes: o prólogo, a parte principal e o epílogo.
O prólogo registra a resposta inicial obediente em remover os cananeus da terra herdada. As tribos de Judá e Simeão obtiveram sucesso (Jz 1.1-20). As tribos de Benjamim, Manassés, Efraim, Zebulom, Aser e Naftali tiveram um sucesso parcial – se é que tiveram (Jz 1.21-36)! O Anjo do Senhor repreendeu o povo por não ser fiel a Deus como Deus era fiel ao pacto com eles (Jz 2.1, 2) e os informou de que os habitantes cananeus que não fossem removidos se tornariam “espinhos” e “ciladas”. O escritor do livro de Juízes sumariou o modo como os israelitas foram infiéis e como Deus os disciplinou por meio de derrotas e do sofrimento experimentados
nas mãos das nações que “foram deixadas para testar” aos israelitas (Jz 2.3—3.5). A violação do pacto, por parte dos israelitas, levou Deus, em ira, a trazer sobre eles a maldição da aliança (Jz 3.20).
A parte principal do livro de Juizes registra uma repetição de uma série de eventos. Os israelitas fizeram o que era mau; clamaram por alívio; Deus levantou libertadores, os juizes; o inimigo foi derrotado e Israel teve paz por um período de tempo. Seis vezes é dito que “os israelitas fizeram o que era mau aos olhos de Deus” (Jz 3.7,. 12; 4.1; 6.1; 10.6; 13.1). Nove juizes são listados, sendo que cinco deles são relatados brevemente; nos relatos de Débora, Gideão, Jefté e Sansão é feito um registro detalhado, com vários assuntos permeados e descrições de personalidades e eventos.
O epílogo inclui uma série de eventos específicos que ocorreram durante todo o período: 1) Uma aberração ocorreu na adoração na casa de Mica, com a assistência de um levita (Jz 17.1-13).
O Período dos Juízes (1 6 .3 1 ) EVENTO S E JUÍZES Israel serve a Cusã -Risataim (3 .7 -8 ) Paz segue o livramento sob Otniel (3 :7 -1 1 ) 0 Israel serve a M o a b e (3 .1 2 ) Paz segue o livramento sob Eúde (3 .1 2 -3 0 ) Sangar livra Israel dos filisteus ( 3 .3 1 ) Israel serve a Canaã (4 .1 -3 ) 20 Paz segue o livramento por Débora e 40 Baraque (4 .1 -5 .3 1 ) Israel serve a Midiã (6 .1 -6 ) Paz após o livramento sob Gideão 40 ( 6 . 1 – 8 . 3 5 )
Abimeleque , rei de Israel (9 .1 -5 7 ) 3 A carreira de Tola (1 0 .1 -2 ) A carreira de Jair (1 0 .3 -5 ) Israel serve Amom e Filistia (1 0 .6 -1 0 ) A carreira de Jefté ( 1 0 .6 – 1 2 .7 ) A carreira de Ibsã (1 2 .8 -1 0 ) A carreira de Elom (1 2 .1 1 -1 2 ) A carreira d e Abdom (1 2 .1 3 -1 5) Israel serve à Filistia (1 3 .1 ) A carreira de Sansão (1 3 .1 -1 6 .3 1 ) 20
2) Os danitas, não tendo reivindicado o seu território aquinhoado, buscaram um lugar na fronteira do norte e, no caminho, roubaram o ídolo de Mica e tomaram o levita para lhes servir de sacerdote (Jz 18.1-3). 3) Um levita, buscando fazer com que sua esposa infiel voltasse para casa, encontrou benjamitas que a estupraram e mataram (Jz 19.1-30). Esse feito, por sua vez, causou uma batalha entre o resto dos israelitas e os benjamitas, o que causou a morte de muitos soldados dessa tribo (Jz 20, 21). As experiências de Noemi e Rute, embora registradas em um livro separado, também aconteceram durante o período dos Juizes (Rt 1.1).
Em Rute 2.8-12, os eventos se desdobram rapidamente, quando Boaz concede o que Rute pede e lhe oferece proteção e sustento (2.8-9). Rute reconhece seu favor a ela, uma “estrangeira” sem merecimentos (2.10). É somente, então (2.11,12),
que a narrativa oferece algum indício da operação providencial de Deus. Boaz já ficara sabendo que Rute não é nenhuma estrangeira comum. Ela buscara “refúgio” sob as “asas” do Senhor, e dele receberá sua “recompensa” (2.12). A lealdade de Rute a Deus, embora fosse estrangeira, virá a ser um elemento essencial no grande plano divino da redenção. O plano será levado a efeito por meio de Davi, o rei segundo a aliança, e de Cristo, o maior filho de Davi.
A recompensa da fé que Rute possuía transcende, em muito, a ocasião e circunstâncias locais.
- O GOVERNO DE DEUS SOB PRESSÃO
Essa pressão não ocorreu por Deus ter deixado de cumprir as promessas da aliança. Israel era sua possessão preciosa, eles eram sua nacão santa, estavam em posição de servirem como vice-gerentes e sacerdotes na criação, entre as nações, como agentes mediadores. Israel tinha se tornado numeroso, e sua fama se espalhava para fora de suas fronteiras: havia recebido a herança prometida – a terra. Israel teve, em Moisés e Josué lideres especificamente treinados; tinham o sacerdócio para os servir. Eles tinham a Palavra do Deus da aliança. Por que, então, o governo de Deus ficou sob pressão? As estipulações foram colocadas diante deles. Israel não obedeceu ao seu Senhor; eles ignoraram e rejeitaram a sua vontade expressa. O livro de Juízes registra isso.
Uma declaração resumida expressa o cerne do problema: “este povo transgrediu a minha aliança” (Jz 2.20). A maioria das tribos não tinha removido inteiramente os cananeus que permaneciam nas suas vilas, enclaves e áreas rurais (Jz 1.22-36). Isso fez com que a cooperação entre as tribos fosse quase impossível. Em vez disso, as tribos
fizeram acordos com os habitantes remanescentes, o que Deus proibira. Os israelitas não removeram os ídolos e altares desses povos (Jz 2.2).2 Israel sustentou as práticas más e os caminhos obstinados.
Uma prática especificamente má foi o casamento entre os filhos e filhas dessas nações com os filhos e filhas de Israel (Jz 3.6). A declaração introdutória dos relatos das atividades de vários juízes diz que Israel fez o que era mau aos olhos de Deus; eles esqueceram o Senhor, seu Deus (Jz 3-7). A frase “não havia rei em Israel; cada qual fazia o que achava mais reto” ocorre periodicamente (Jz 1 7 .6 ; 1 8 .1 ; 1 9 .1 ; 21.25). A leitura do livro de Juizes mostra como Israel desobedeceu a Deus, ignorou os Dez Mandamentos e se recusou a cumprir fielmente o mandato tríplice, presente do pacto da criação e redenção: 1. Israel se recusou repetidamente a manter o seu relacionamento espiritual com Deus; os ídolos e altares das nações que adotaram são evidências severas. 2. Eles quebraram o mandato social; casaram-se com os povos das nações; Jefté fez um voto precipitado a respeito da sua filha ilegítima (Jz 1 1 .1 , 3 0 , 3 4 – 4 0 ). 3. Existe pouca evidência de que os israelitas tenham tentado cumprir o mandato cultural como um povo da aliança, povo obediente, que servia a Deus. Uma evidência disso inclui a recusa de Baraque em assumir a liderança política, militar e judicial, em vez disso, seguindo a Débora, uma mãe em Israel (Jz 5.7). Considere, também, o comportamento de Abimeleque que, tendo assassinado seus irmãos (Jz 9.5), buscou ganhar uma posição real na terra.
Os relatos do comportamento de Sansão em estranhas misturas sociais e culturais falam da confusão e desobediência ao mandato cultural de Deus (Jz 13.1-16.31).
Israel recebeu inúmeras bênçãos que se tornaram disponíveis a eles por meio do serviço ao seu Rei universal. Deus, de fato, por meio da administração contínua dos pactos da criação e redenção, provou ser o Senhor fiel, soberano e beneficente do seu povo e governador sobre toda a terra. O povo, no entanto, fez pouco caso das suas bênçãos e privilégios. Eles não viveram, serviram e adoraram como propriedade peculiar de Deus, um reino, uma nação sacerdotal e santa. A infidelidade do povo fez com que o governo de Deus ficasse sob pressão.
- O GOVERIMO DE DEUS MANTIDO
O reinado de Deus sobre o povo e sobre todos os aspectos da sua vida foi firmemente demonstrado por três realidades: A. Os julgamentos de Deus sobre seu povo desobediente O Anjo do Senhor tinha aparecido a Israel logo depois da morte de Josué e dos anciãos que tinham vivido e servido com ele. Israel foi informado de que, sob o governo providencial de Deus, os cananeus não removidos da terra se tornariam “seus adversários” (Jz 2.3), e seus deuses, um laço para eles. Isso foi precisamente o que aconteceu. Israel se esqueceu de Deus e adorou aos Baalins e ao poste-ídolo (Jz 3.7). Outros deuses, os dos sidônios, moabitas, amonitas, e filisteus, também foram adorados (Jz 10.6). Deus trouxe julgamento sobre Israel. Sob seu reinado soberano, outras nações se tornaram opressoras de
Israel. Note a frase “ele os entregou nas mãos” (Jz 3.8) do rei de Cusã-Risataim. Outros termos também foram usados: “ele fez forte”, isto é, Deus deu poder a Eglom, rei de Moabe, sobre Israel (Jz 3.12); “e ele os deu” nas mãos dos midianitas (Jz 6.1) e nas mãos dos filisteus (Jz 13.1). Essas nações são mencionadas como servas de Deus, porque ele, tendo-as sob seu governo, deu- lhes poder, habilidade e oportunidade de lhe servirem como instrumentos de julgamento. Desse modo, na verdade, Deus executou a maldição do pacto sobre Israel (Dt 28.25,43,45-48).
Esse julgamento teve resultados salutares. Israel, sob opressão, sofreu como vítima de guerra e como escravo “e clamou” a Deus (Jz 3.9,15; 4.3; 6.7; 10.10). Esse “clamor” deve ser entendido como um apelo a Deus por socorro.
Assim como Israel, sob a escravidão egípcia, havia clamado, e Deus lembrou-se de seu pacto (Ex 2.24), assim o Senhor manteve o pacto com um povo aflito e súplice, conforme havia garantido (Jz 2.1). Deus, como o Rei soberano das nações, se voltou de executar a maldição para conferir as bênçãos da aliança. Essa condução de bênçãos também foi feita por instrumentos nas mãos de Deus.
- Deus “fez surgir um salvador [libertador] ” (Jz 3 .9 ,1 5 ) Essa apresentação de um libertador foi feita de várias formas. Gideão foi abordado por um profeta, por meio de quem o Anjo do Senhor falou: “Deus está contigo, guerreiro valente”. A Gideão foi ordenado: “você salvará [libertará] Israel das mãos [literalmente, “da asa” ] de Midiã ” ( J z 6 . l 4 ) . Jefté foi abordado pelos anciãos de Israel para guiá-los contra os amonitas. Quando o Espírito de Deus veio sobre ele (Jz 11.20), Jefté avançou contra os inimigos, e Deus
os deu em suas mãos (Jz 11.29, 32). O chamado de Sansão veio primeiramente a seu pai, Manoá, da tribo de Dã, quando o Anjo de Deus o informou de que sua esposa estéril teria um filho. O garoto deveria ser um nazireu e deveria “começar” a libertar Israel das mãos dos filisteus.
Os agentes de libertação, escolhidos por Deus, também foram citados como juizes (Jz 2.16-19). Débora e Samuel, no entanto, são os únicos que são especifica- mente citados como servindo na capacidade judicial (Jz 4.5; ISm 7.6, 15). No livro de Rute, uma atividade dos juízes é traduzida c om o “administrada” . O escritor do livro de Juízes se concentra na obra libertadora dos juízes, no serviço subsequente de Israel a Deus e na paz que o povo desfrutou. Os juízes. não serviram como reis. Podem ser considerados como governadores que assumiram a responsabilidade por várias funções que seriam normal- ! mente, as de um rei. Assim, Deus exerceu seu reinado sobre as nações e, particularmente, sobre Israel, por meio dos juizes, ainda que eles tenham sido notoriamente imperfeitos.
Essa imperfeição ficou evidente no, que foi registrado: “nos dias em que não havia rei Qz 18.1; 19.1], cada um agia como achava ser apropriado” (Jz 21.25). Deve-se entender que Deus, assim como seu pacto e a lei dada por Moisés foram ignorados e rejeitados. E, nesse ambiente, o sacerdócio não atuou como ordenado por Deus; os levitas se consideraram livres para escolher seus modos de serviço. Os líderes e o povd não conheciam ou obedeciam à lei. A voz profética dificilmente foi ouvida. Mas isso* não pode ser considerado como uma evidência de que Deus havia se afastado da seu governo providencial. Ele manteve sua meta final. O governo de seu reino seria dej monstrado de uma forma sempre crescente]
- A manutenção do governo de Deus é descrita no livro de Rute A narrativa registrada nesse livro é serena e agradável. O livro foi escrito não muito depois do tempo em que Noemi e Rute viveram. Ele demonstra que Deus continuava no controle, cuidando do seu povo, fazendo com que o bem surgisse mesmo em tempos e experiências difíceis.
Na época de Saul e Davi, a história poderia ter uma mensagem proveitosa para os israelitas. O fato de Rute, uma moabita,3 ter sido incluída não somente como uma esposa de Boaz,4 mas como uma ancestral de Davi (Rt 4.16-22), enfatizou o caráter universal da aliança5 de Deus como revelada a Noé (Gn 9.25-27) e a Abraão (Gn 12.1-3).
O relato de Noemi e Rute, que viveram durante o tempo dos juizes, demonstra o governo providencial de Deus. Dentro da esfera do pacto da criação, uma fome induziu uma família israelita a ir para Moabe; a colheita abundante de um parente de Noemi proveu a ocasião para Rute se encontrar com Boaz. Um outro parente não foi capaz de servir como o “resgatador”. No contexto desses eventos, Deus continuou a cumprir sua promessa a respeito da descendência da mulher e dos patriarcas. A partir dessa linhagem da descendência da aliança, nasceriam os mediadores, como exemplificados por Davi, que tinham Boaz e Rute como ancestrais. Deus, no contexto do processo histórico, se revelou como um Senhor fiel enquanto dirigia o povo e controlava os eventos que trabalhavam conjuntamente para o estabelecimento do reino de Deus e consumação final de todas as coisas.
CONCLUSÃO
A narrativa de Juizes e Rute move-se rapidamente por vários estágios, cada um marcado por elementos de ironia e suspense, com intensidade dramática, contribuindo para reforçar o tema, que é a realização da providência de Deus na história. Devemos notar a importância especial que o livro de Rute adquire à luz do evangelho. Rute segue a fé demonstrada por Abraão quando ela deixa casa e família para ir a uma terra estranha sob os cuidados do Senhor. O alcance universal do evangelho vem à luz, quando Rute, a moabita, encontra a bênção prometida a todas as nações nos descendentes de Abraão. Rute torna-se uma ancestral de Cristo, o qual, em si mesmo, reconciliará a Deus com homens e mulheres de todas as nações.
APLICAÇÕES
- Você tem se preocupado em aplicar o que já aprendeu da vontade de Deus? 2. Você tem procurado identificar a disciplina do Senhor em sua vida, aproveitando-a para arrepender-se e retornar aos seus caminhos? 3. Você tem louvado e agradecido a Deus pelas bênçãos e segurança da aliança?